27.11.06

um dia disse, pintando uma eternidade...
















Dito isto fica um grande espaço vazio, onde o homem está só não já de corpo ou de espírito mas de todo o murmúrio e todo o espasmo. E então sim contra os vidros o amor soluça tempestade, deuses gregos assomam às janelas e tombam sobre o odioso chão que ladra e ladra. Uma aurora de cães afivela o teu pulso e a cobardia responde à cobardia como a coragem responde à coragem. Um pouco de certo modo por toda a parte há homens desmaiados ou simplesmente mortos. O amor redime o mundo, diziam eles mas onde está o mundo senão aqui?
Dito isto fica um grande espaço vazio

mário cesariny

um dia tive o privilégio de sentir as tuas palavras porque as partilhei...
um dia percebi que enchias os corpos vazios de sentido.
um dia que fez parte da minha história, dos meus olhos... Estará presente nos momentos futuros em que tocar em alguém.
um dia não morreste.
um dia...

margarida

um dia disse.

Não vamos dizer surrealismo. Vamos dizer poesia. Porque surrealismo é o que existe de mais parecido com a poesia. Não se ensina, não é possível. Tudo o que é pedagógico é muito mau. Tudo o que nasce como revolta é um tormento. O surrealismo foi um convite à poesia, ao amor, à liberdade, à imaginação pessoal. O surrealismo reuniu o romantismo, o simbolismo, o futurismo, as tradições libertárias e outras correntes, e deu-lhes um sentido. Esse sentido não vai desaparecer, ficou explícito. Aquilo a que se chamou o surrealismo existiu sempre... (…)

O Surrealismo continua a ser o último enunciado verdadeiro dos problemas centrais do nosso tempo, para quem quer viver como um homem, e não como um porco farto e satisfeito. Como filosofia, como poética, como busca da direcção desconhecida, da divindade civil Na poesia, na escrita, estão todas as nossas vísceras. (…)

Uma pessoa que está convencida da inutilidade do seu grito, não grita. A poesia que escrevi é uma coisa que me foi e ainda é útil. Se o é para os outros não sei. A questão da inutilidade não se põe. Já Valéry dizia que o poema é o acto de criar, é a criação de um espaço. É um exercício de libertação em que muito daquilo que nos ensinaram não serve para nada, antes pelo contrário.

mário cesariny

24.11.06

Cabeça e coração com asas

A viagem não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores” – Mia Couto.

Um espelho, dois reflexos desconhecidos…
Um dia, dois corpos cruzaram-se…
Uma viagem simples e mágica.
Um passo, um reflexo, um coração atravessado.

Um coração com asas que deseja.
Aquele que olha o outro para além das palavras.
As nossas diferenças não nos distanciam, enriquecem-nos.

Não foi por acaso que nos encontrámos aqui.
Não é por acaso que precisamos da sensibilidade para respirar.
Não é por acaso que precisamos do outro.
Não é por acaso que choramos, rimos e erguemos os olhos para uma nova demanda.
Quem iniciou a viagem não pode esvaziar o sentido de quem está de corpo e alma a construir as asas de quem precisa de voar.
Um dia é tarde demais…
Preciso de ti para me salvar.
Há dias em que simplesmente não acreditamos…

margarida

18.11.06

"tempo de desamparo" - pina bausch


A tentação… de te ligar só para ouvir a tua voz.
O eclipse de tentar. O desejo da tua sombra.
Eu sei que me vou magoar. Sinto-o já.
Consigo imaginar que te desenho… é tão pouco……….
um beijo na escuridão....
Estende-me a mão, eu irei ter contigo. Eu sei onde encontrar-te.
Não posso invadir-te assim.
A loucura de imaginar que pensarás em mim.
Este arrepio que ferve em cada passo meu.
Só por um momento.
Não posso adiar o coração.
Dá-me um intervalo. A verdade magoa demais.
A minha própria desilusão. Partir o meu próprio coração.
Esta dança do quero e não quero.
Um ponto final que me obrigas a escrever mesmo não sentindo.
As tuas imagens passam involuntariamente na minha cabeça.
Tentam-me a prolongar este sorriso que ninguém percebe quando te recordo.
Quero ser melhor. Para ti. Por ti. Sei o tamanho do teu sorriso.
Estás tão distante… e aqui tão perto… esta tortura de tentação.
Só por um momento…. dá-me um tempo teu…rir, chorar, falar, ouvir… contigo.

margarida

17.11.06

nothing Compares to you

It's been seven hours and fifteen days
Since you took your love away
I go out every night and sleep all day
Since you took your love away
Since you been gone I can do whatever I want
I can see whomever I choose
I can eat my dinner in a fancy restaurant
But nothing I said nothing can take away these blues
`Cause nothing compares Nothing compares to you
It's been so lonely without you here
Like a bird without a song
Nothing can stop these lonely tears from falling
Tell me baby where did I go wrong
I could put my arms around every boy I see
But they'd only remind me of you
I went to the doctor n'guess what he told me
Guess what he told me
He said girl u better try to have fun
No matter what you'll do But he's a fool
`Cause nothing compares Nothing compares to you
all the flowers that you planted, mama
In the back yard All died when you went away
I know that living with you baby was sometimes hard
But I'm willing to give it another try
Nothing compares
Nothing compares to you
Nothing compares
Nothing compares to you
Nothing compares
Nothing compares to you

Sinead O'Connor

15.11.06


O intervalo do querer e não dever, querendo sempre mas não podendo. Agora és tu que controlas o destino. Tens na tua mão o segredo. O estar entre um passo na tua direcção e um sossego contido de dúvidas rodopiantes que terminam em mim. Uma solidão cheia de sonhos teus. É utópico ficar no silêncio. Sabes bem que é tumultuoso.
Talvez um dia… um dia é distante demais.
És tu que podes tirar a venda. Só agora. Este desejo que me alimenta e que me aprisiona. Serei eu? Estarei errada? Estás em mim mesmo que não queira… estou aquém e perfeitamente consciente deste turbilhão.
Falho sem saber bem porquê… por sentir a tua beleza? Como podes ser tão importante??
Falho por ti.
Alguém comentou agora: para gostares de alguém precisas de um segundo, uma hora, um olhar, um acaso. Para esqueceres, se for verdadeiro, precisas de uma vida… agora compreendo essa palavra. Não é nenhum imprevisto.
Não posso conter o que sinto. Uma flecha dita por mim que me acertava. Tenho de tentar seduzir-te… Terminarei com uma dúvida.
A bifurcação entre a coragem de dizer “amo-te” com todas as impressões digitais e a cobardia de saber que não terá resposta. Lamento tanto...
O que escolher? Tantos são os medos. Seguir a respiração do coração, despindo as máscaras da alma, retira a rede que está entre o chão e o meu corpo. Sei que corro o risco de ficar estendida numa areia sem ti. Não quero arrepender-me de não tê-lo feito. A contradição de sentir.
É assim que te vejo. Uma inevitabilidade de quem está encantada. Não sei quem sou quando estás por perto. Não há qualquer sentido e explicação. O amor não tem cara, não tem nome. “I´m not supossed to feel.”. As palavras são supérfluas. A escolha é uma quimera. O coração é um fogo de borboletas. Quero esquecer-me de mim nas tuas mãos. meu amor…
…sonho que numa noite de arco-íris nos encontraremos à beira-mar ...

7.11.06


Noite de viagens desconhecidas que lembram a saudade.
Um coliseu que se transforma… um lugar sem paredes com o céu à vista…
Uma terra com todos os sonhos.
Choveu o conforto da companhia do olhar quente.
Partilhámos e ficou guardado no nosso cofre.
A simplicidade de um momento cheio de lugares vazios e preenchidos pela palavra e por um sorriso aberto.
Um mundo dado a descobrir…
Uma lágrima que escorrega, um sorriso inesquecível, as mãos que tremem com o dom de arrepiar a nossa alma.
O desenho de criança, a palavra feito homem, um encanto feito mulher.

margarida

Palavra de mulher





Vou voltar
Haja o que houver, eu vou voltar
Já te deixei jurando nunca mais olhar para trás
Palavra de mulher, eu vou voltar
Posso até sair de bar em bar, falar besteira
E me enganar com qualquer um deitar
A noite inteira
Eu vou te amar
Vou chegar A qualquer hora ao meu lugar
E se uma outra pretendia um dia te roubar
Dispensa essa vadia
Eu vou voltar
Vou subir
A nossa escada, a escada, a escada, a escada
Meu amor eu, vou partir
De novo e sempre, feito viciada
Eu vou voltar
Pode ser Que a nossa história Seja mais uma quimera
E pode o nosso teto, a Lapa, o Rio desabar
Pode ser Que passe o nosso tempo Como qualquer primavera
Espera Me espera Eu vou voltar

Chico Buarque1985

6.11.06

pode ser uma existência, um todo de vivências
só me faz sentido proferir uma bola de sabão… a palavra que ilustra um outro...
num abstracto ou no concreto
aquilo que sentimos ou pensamos tem sempre uma referência
um outro-alguém bonito
aos olhos de quem espreita
numa alma ou no retrato
sou transparente.. a minha transparência é feita de mistério
salpicos de pirilampos iluminam a tua sombra
sou tua amante.

margarida

É meu e teu, este desencontro…


Numa linha da vida cruzámo-nos quando te puxei. Chegaste a tocar no meu caminho, leste-me... Mesmo que te afastes, este é o nosso (des)encontro.
Mais meu, do que teu, porque sinto mais forte. Não é isso que interessa.
Questiono-me onde terão sido postos os pozinhos de magia da Sininho. Precisava tanto. A magia e o mistério são amantes.
Sou pisada novamente pela vida. E sei que me vou levantar. Tenho sorrisos à minha volta. Tenho um sininho de sorriso. O do amor foi agora, neste preciso momento, ajudar alguém mais necessitado. Foi feita justiça social. Tomara que assim seja. Go with the flow….
Encontros, desencontros, sorrisos, lágrimas… É isto que compõe um quadro. Distorcidos com a nossa forma de ser, acentuados, esticados, sentidos até ao tutano. Compõe o tornado surreal e sentimental que somos. É isto que remexe a cor de uma fotografia a preto e branco.
Estás um passo ao lado. Nem te apercebes desta beleza. Ou será que te apercebes? Chega a dar vontade de esboçar a estrutura musical de uma bela gargalhada. Estou para além da vibração das palavras, mas ainda preciso dela. Já está outra vez sem a força necessária. Eu escolho mal, sempre fui uma caminhante disléxica. Também não existe a palavra que quero! Mais do que as palavras valem as acções. Até quando? Que confusão.
Ouvimos a mesma música, falamos a mesma linguagem. Jogaste-me um amortie. Corri atrás do sentimento e perdi-me na contagem. Patética. Sou patética. Vendo a minha patetice sem estima e sem pó de tijolo. Não escrevo mais… Sinto-me ridícula por não estar a explicar. Fala comigo. Passo o campo à espera de um novo encontro.
E se não houver outro contigo?....

margarida

2.11.06


"Pode alguém ser quem não é?" (sérgio godinho)

uma frase que vem acompanhando a minha existência... que me guia quando estou perdida...

margarida


Toco na palavra para despertar o silêncio.
Grito por amor. E sou livre por sentir. Os sentidos foram falados.
Cheira a rosas e a almofadas.
O teu olhar inspira esta trovoada.
Encontro-te em cada esquina da gota.
Este sopro arrepiante que me faz sorrir involuntariamente.
Ando distraída contigo.
Quero ir, para que venhas dançar este despertar.
Um estado de espírito que me ameiga.
Deixa-te ir pela brisa que seduz…

margarida

Duas faces com um único rosto


O equilíbrio do que somos e do que desvendamos. A balança dos dois gémeos.
Quem já arriscou mostrar a alma, vive na impotência de não cair no mesmo erro.
Porque a mágoa cria rugas. Porque o julgar espontâneo dói. Porque mexem no nosso ser sem limites.
Há uma máscara indefinida no nosso estar que trava esses abusos. Há uma transparência que nos balanceia.
Hoje vi-me ao espelho e não reconheci os contornos desenhados. Não sou eu que estou reflectida. As linhas estão demasiado ao lado. Os meus olhos são interrompidos.
Este tempo de espera desfigura-me.
Sou moicana.
Despi-me e entreguei-me. Não vivo o momento de qualquer forma.
Só posso sentir até onde tu começas. Desabotoou-te e invades-me só na minha imaginação.
O meu tempo alheio parou. Não tenho respostas, nem sei que passos dar.
A indiferença da tua face desvendada cria uma ruga no meu rosto.
Não queria que me pertencesses desta forma.
A balança cai com o peso do desespero.
Não sei para que lado.

margarida