19.5.08

Um estranho

Um estranho encostado ao balcão franze a testa e olha para a porta de saída. “O que pensará ele?”, imagina alguém que o vê. De vez em quando, os olhares deles cruzam-se. “O que é o amor?” O olhar vazio dele. O olhar intrigado dela. “O que é a amizade?” As feições são atraentes para ambos. Ela decide-se e dirige-se até à porta. Ele segue-a com o olhar. Num único segundo, as outras pessoas que os rodeiam desaparecem e ele toca-lhe na mão. Não houve palavras. O tempo quebrou. Sentiram-se distraídos com tanta beleza. Foram amparados.
Ela saiu com vontade de encontrar de novo aquele estranho. Ele ficou com desejo que ela voltasse. “Qual é a fronteira entre o que eu preciso e tu precisas? Por onde se começa? Qual é o risco em continuar a pensar de igual forma em nós e nos outros? Será que se vão encontrar? Será que cedem? Será que se procuram na amizade? Há uma grande diferença entre o que eu quero e o que eu preciso.” O olhar daquele estranho. Um sorriso sacana. O sorriso tímido dela.

As pessoas seguem o seu caminho. Esquecem-se de outros. Lembram-se quando precisam. É triste que seja assim. Já não devo estar no sítio onde me deixaste, quando regressares. Perdeste-me porque não continuaste a caminhar comigo. Perdeste-me porque deixaste de me ver para te veres primeiro. Continuo a acreditar que não somos só uma ilha. Não é que abomine isso tudo, mas é tão pouco. “O que quiseste de mim? Ocupar o tempo vazio que tinhas? Fui só isso?” Pensei que tivesse sido uma âncora que iria permanecer num porto de abrigo. Ainda apareces no pensamento. “Porque não me surpreendes e pressentes?”

Um estranho sentado às escuras. Aquele que nos desperta a alma. No fim do dia, a imagem dele ainda aparece. Cria um fogo de borboletas. “Será que se centra no que nos une, ou se centra no que nos separa?” É uma escolha de cada um. Tudo é uma questão de disponibilidade. Houve alguém que olhou. Procura o seu lugar no mundo. De rastos. Lembra-se do que ouviu “Encontraste alegria na tua vida? Deste alegria aos outros?” Coração partido. Coração rodopiante inseguro cheio de magia.

Conforto. Sentir sossego para sempre. Cuidar. Lembrar-me da essência. Aninhar-me sozinha. Regressar à genuinidade. Começar de novo. Agora.

3 Comments:

Blogger Unknown said...

abraço forte.
F.

maio 19, 2008  
Blogger Paula said...

O encontro desencontra-se nos avessos da existência. Ultrapassar as barreiras emocionais, o verdadeiro obstáculo. O Esquecimento falsa permissa, dá lugar à transmutação no Aqui e no Agora. Afinal, quem se perdeu no caminho? quando e onde? responder a estas questões é resolver uma equação existencial. Serás tu, ou eu capazes de..? Seremos eternamente estranhos uns dos outros?!

maio 20, 2008  
Blogger Gonçalo Nogueira said...

Este nosso mundo e de facto muito pequeno. E quando e resumido ao nosso mundo interior, polvilhado de sentimentos e saudades, as lagrimas sao inevitaveis. Om Shanti. Goncalo Nogueira

maio 20, 2008  

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