10.2.06

Poesia dramatizada 3Mulheres uma produção FarpasTeatro

A liberdade da palavra

“Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro gente igual por fora
Onde a folha da palma afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo mas irmão
Capital da alegria nos braços do rio
Toma o fruto da terra
E teu a ti o deves lança o teu desafio
Homem que olhas nos olhos que não negas
o sorriso a palavra forte e justa
Homem para quem o nada disto custa
Será que existe lá para os lados do oriente
Este rio este rumo esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir na minha rota?”

Zeca Afonso - Utopia

Foram muitas, as alterações, que surgiram após o 25 de Abril de 1974”.
É, talvez, uma das primeiras frases que se ouve numa conversa, com algumas pessoas que viveram intensamente esse período. Essas transformações, como se conhece, passaram pelo estabelecimento da democracia, pela construção da Constituição, pela valorização da mulher, pela democratização do ensino, entre outras igualmente importantes.
Mesmo assim, não tendo vivido esse momento, pelo menos de forma directa, sinto necessidade de fazer um apelo: a liberdade que foi conquistada é, por vezes, ambígua e até, atrevo-me a dizer, uma ilusão para muitos. A luta por um mundo mais justo deve continuar. A cidade ainda tem muros e o sol quando nasce ainda não é para todos.Outras injustiças surgiram ou foram continuadas. Cabe-nos a função de exercitar diariamente essa liberdade e ter a coragem de olhar o outro nos olhos. Cabe à arte e à educação, usar o seu poder de expressão e impulsionar com criatividade novas mudanças, novas intervenções, novos sorrisos.
margarida
O pónei que comeu pipocas de morango

Esta história poderia começar como tantas outras.
“Era uma vez uma menina que foi ao circo patatipatata”.
Deixando de lado devaneios que não interessam a ninguém, nem mesmo a mim, começo a enternecedora deambulação pelas minhas memórias do circo.
Não tinha muito mais que cinco anos (informação confirmada com os meus pais) quando entrei num “balão” gigante que tinha aparecido perto da minha casa. Era estranho este “balão”, pensava eu, porque tinha de estar muito amarrado ao chão, com imensas cordas, para não começar a voar como os outros.
Entrei expectante no balão… Já tinha nas mãos um pacote de pipocas vermelhas, que o meu irmão me tinha dado (obrigada!!!). O espectáculo ia começar e eu não sabia por onde começar a olhar.
Sentia-me uma formiguinha meia tonta (será que também entrava no espectáculo?) daquelas que se desviam do carreiro. As cores invadiram os meus olhos, os palhaços conquistaram o meu riso estapafúrdio, senti arrepios e fiquei boquiaberta com os aplausos merecidos.
Guardei as pipocas no bolso. Precisava agora das minhas próprias mãos para agarrar as rédeas do pequeno grande cavalo que estava ao meu lado. Cavalguei imenso e mais tonta fiquei. Como agradecimento de ter sido amparada para tal aventura, ofereci, com todo o meu coração, uma pipoca a este cavalo de mil cores.
margarida
“A lua anda devagar mas atravessa o mundo” – Mia Couto



Depois de passares essa porta, eu deixarei de existir.
Aqui só existem miragens: o deserto cresce lentamente durante a noite.
As palavras são ditas por mim, mas não são minhas. Assim é o nosso amor.
Vejo o arco-íris mesmo à minha frente e percebo que as minhas mãos são demasiado pobres para poder agarrá-lo. Vou tentar com o coração.
Estou acompanhada e sozinha emociono-me…
Confundes-te com a imensidão e a beleza do mar e deambulo contigo sentindo a nossa brisa. Flutua uma música dentro de mim que não é a que está a tocar.
Muitos dos rostos que sonho pertencem a Homens marcados que nunca trataram o coração com cremes.
O fascínio de ler o amor na cara dos outros, nas rugas, é como quem tenta descobrir a idade das árvores através das suas cascas.
Canto e danço enquanto os galhos da vida crepitam… Sei a força das asas do amor.
margarida