22.1.07

entre as palavras

Do amor
Esta vista de mar, solitariamente,
dói-me. Apenas dois mares,
dois sóis, duas luas
me dariam riso e bálsamo.
A arte da natureza pede
o amor em dois olhares
Nessa parede verde da hera
o teu rosto cada vez ganha mais forma,
entre as mãos de verdura estendidas
aos ventos que as dobram e movem.
Quando te vejo na luz ou nessa sombra
estar vago e ser tão próximo,
só tu sendo não sabes onde te vejo,
só eu muda não digo onde te guardo.

Fiama Hasse Pais Brandão

11.1.07

“If you believe in love at first sight, you never stop looking”

Já vi as cores do voo. Toquei tão intenso. Sou reticências. Sou dúvida. Voltarei a encontrar-me... não será o mesmo. Sou suspensão. Renego. Acredito. Desiludo-me. Sinto baluarte. Estou estampada por ti. Desespero. Não há resposta. A persuasão de te encantar. Sou magia iludida. Coração aberto que troveja. Não se pode esperar o caminho inteiro. O risco de se ficar único no meio de tantos rostos. Será que existe alguém à procura? Esta espera fervilha um nó atado. Encontra-me. Sou lágrima. Como fugir do amor às escuras?

margarida

'Calou-se o sino, o que chega a mim agora é o eco das flores’ Bashô

Por detrás dos montes

INTEN(TA)ÇÕES
Andar à procura e não sair do mesmo sítio.
Procurar parar e saber ficar.
Uma só cor.
Um gesto, um objecto, um pano, uma música.
O "desorizonte."
Um olhar a tra-ce-ja-do.
Agora vejo-te, agora não.
Esvaziar, começar cheio e acabar vazio.
Contrastar.
Olhar de esguelha, desaprender e transformar.
Trabalhar o invisivel, o que fica por dizer, o vazio, o silêncio.
Procurar nos intervalos, nos avessos, nos defeitos.
Recuperar actualizando.
Não concretizar.

Marta Carreiras (ESPAÇO CÉNICO E FIGURINOS)


4.1.07

Perdi-te por entre os dedos. As palavras foram mudas. O que nos move? Quis-te no aconchego do tempo. O cruzamento admirado. Tenho as mãos cheias de nada. Não me encaixo em mentiras vendidas. Rejeito as grades que nos findaram. Numa linha de água encurralada, voei, deslizei… O olhar sussurra estático por me teres deixado escapar. Engoli um vazio que se mascara. Cada vez que sinto, engrandeço-me. Há dias de encanto. Cada vez que sinto, esvazio um pouco mais. Não é que abomine tudo, mas é sempre tão pouco. Há dias que simplesmente não acreditas… Preciso de suspirar por dentro. Um corpo estilhaçado que reflecte no que é visto.
Queria aceitar o intervalo. A plenitude não dura o tempo ideal. Não te perdi. A ilusão de que me pertencias acordou.
margarida