10.2.06

A liberdade da palavra

“Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro gente igual por fora
Onde a folha da palma afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo mas irmão
Capital da alegria nos braços do rio
Toma o fruto da terra
E teu a ti o deves lança o teu desafio
Homem que olhas nos olhos que não negas
o sorriso a palavra forte e justa
Homem para quem o nada disto custa
Será que existe lá para os lados do oriente
Este rio este rumo esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir na minha rota?”

Zeca Afonso - Utopia

Foram muitas, as alterações, que surgiram após o 25 de Abril de 1974”.
É, talvez, uma das primeiras frases que se ouve numa conversa, com algumas pessoas que viveram intensamente esse período. Essas transformações, como se conhece, passaram pelo estabelecimento da democracia, pela construção da Constituição, pela valorização da mulher, pela democratização do ensino, entre outras igualmente importantes.
Mesmo assim, não tendo vivido esse momento, pelo menos de forma directa, sinto necessidade de fazer um apelo: a liberdade que foi conquistada é, por vezes, ambígua e até, atrevo-me a dizer, uma ilusão para muitos. A luta por um mundo mais justo deve continuar. A cidade ainda tem muros e o sol quando nasce ainda não é para todos.Outras injustiças surgiram ou foram continuadas. Cabe-nos a função de exercitar diariamente essa liberdade e ter a coragem de olhar o outro nos olhos. Cabe à arte e à educação, usar o seu poder de expressão e impulsionar com criatividade novas mudanças, novas intervenções, novos sorrisos.
margarida