7.12.06

ponte enternecida


Um olhar no horizonte que não vê.
Um olhar de criança preso nos caracóis dessa fotografia.
Intersectada, mais perto da surpresa da lamparina.
A cor provada de um vinho. Um imprevisto ensaiado.
Uma farpa sem intenção. Dividida por querer partir sem consciência.
Respiro ofuscada para que vejas a saudade lá no fundo.
Agarrando o que foi inscrito para fazer desaparecer em mim.
A incorporação é fugaz como a passagem nos teus momentos.
Sigo os teus contornos escondidos a deslizar.
Entre-tempos pisamos o mesmo espaço.
O espaço das contradições. Dois pores-do-sol que não se fintam.
No horizonte, uma ponte enternecida sem lugar.
Pegadas fugidias que se confundem.
Um trajecto recortado numa linha imaginária.
Sou um fantoche que desenha esboços de desejos.
Um coração de elástico que se prolonga sem fim.
À espera de uma nova respiração que demora num tempo parado.
A separação efémera é uma lágrima doce.
A espera entorpecida do teu frenesim sem fala.
Esboço-te diferente desta margem, és um outro eu igual que sente e que esqueceu.

margarida